top of page

Saúde LGBT - O que queremos

Falar em saúde LGBT é falar na inexistência políticas públicas de inclusão no combate às desigualdades em saúde que intrinsecamente a população LGBT sofre.

Vamos imaginar três cenários, e com eles questões que se me assolam, e que constituem casos práticos de saúde em três diferentes faixas etárias.

O primeiro sucede-se com uma criança, uma criança que hoje em dia tem acesso à Saúde Escolar. Mas que não tem mais nem menos, que um acesso a um discurso heteronormativo, sem preocupações consequentes dos cuidados reais de saúde da população que se lhes espelha à frente. Quando penso nesta criança, penso também o ambiente hostil que a mesma sente, se por acaso quisesse abordar alguma questão, que fosse de encontro à temática sexual, mas que não fosse nenhuma que se articula com a temática homem - mulher, que os enfermeiros de saúde escolar hoje explanam como “cantilenas” com que dão as sessões de educação para a saúde. A caixa de perguntas, como muitos defendem, uma caixa que assegura o anonimato, deixa por experiência própria, os profissionais de saúde a escolherem as perguntas que mais se assemelham com as básicas perguntas “O que é o sexo?” ou “O que é o orgasmo?”, mas nunca investindo por si numa pergunta de “Como é o sexo entre duas mulheres?”.

E aqui entra no esquecimento a população LGBT, que logo desde inicio sofre com o preconceito e alienação em saúde. A definição de estratégias que promovam a atenção e os cuidados com crianças e adolescentes, com atividades e gabinetes de apoio que abordem as temáticas de saúde LGBT, ou que encaminhem estas crianças para outras instituições de apoio e que até mesmo se realizem sessões de educação para a saúde com esta temática com a participação de todos, não surgem. Nada, é a resposta que se dá, sendo o preconceito veiculado logo desde inicio.

O segundo exemplo que trago é evolução desta mesma criança para o estádio de jovem adulta, sendo que se define como lésbica, e que necessita de recorrer a uma consulta de saúde obstétrica e reprodutiva. Sendo que a primeira pergunta que lhe fazem é “Há quanto tempo tem relações com o seu parceiro?”. Logo a primeira pergunta é indicativa de como nada inclui no Programa Nacional de Saúde as especificidades de atendimento a lésbicas, bissexuais, trans e intersexo, não só nesta consulta, mas também na ampliação lata de outras respostas de saúde em meio hospitalar ou de centro de saúde. Não há aqui logo desde inicio a adaptação do conteúdo médico de uma forma holística. Sendo que por outro lado, há uma total incapacidade de resposta de fornecimento de informações adequadas, porque o desconhecimento é perene. Abolir assim as dificuldades de acesso a estes serviços, com a adaptação do conteúdo à identidade de género nas consultas obstétricas e de saúde familiar de adolescentes e jovens adultos, torna-se só um exemplo, aos quais acresce a falta de campanhas de saúde sexual que inclua a população LGBT.

O terceiro exemplo contorna os mesmos paradigmas, e é da mesma senhora, agora idosa que depois de assistir à consequente desigualdade, falta de equidade e falta de qualidade e segurança em saúde, chega ao seu estádio final de desenvolvimento. Os cuidadores formais e informais não estão capacitados para lidar mais uma vez com as temáticas LGBT e assim ressurgem, como já provado em alguns estudos, a depressão associada aos idosos LGBT, em que a abordagem sexual já se pensa esquecida nesta faixa etária, contudo para estes ainda mais a desigualdade se sente.

Com estes exemplos que tangem só algumas medidas, não ficaram esquecidos que a coleta cientifica e de conhecimentos, dados e informações especificas da saúde LGBT ficam sempre à margem pela falta de investimento em estudos na área. Também não fica esquecido que os profissionais de saúde não carecem de qualquer tipo de formação, nem têm, à exceção dos psicólogos, normativas que vão de encontro a este tema. E também não fica esquecido a revisão do “estatuto de familiar” nos hospitais, bem como a implementação de indicadores de saúde nesta área. E tantas outras questões que se desvanecem na holística que deveríamos ter na abordagem dos utentes.

Single post: Blog_Single_Post_Widget
bottom of page