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Calmness, a arte queer que escalou o Top de vendas do iTunes


Queer, músico e com apenas 20 anos, Guilherme Tavares, conhecido pelo nome artístico “Calmness”, desistiu dos estudos para se dedicar à música. Em novembro de 2017 lançou o seu primeiro álbum – Lavender, que no próprio dia do lançamento o elevou ao primeiro lugar do Top de vendas do iTunes.

Composto por 8 temas minimalistas e de curta duração, disco cria ambientes melancólicos através de melodias ao piano e à guitarra. Em algumas músicas, as letras são faladas (spoken word) e não cantadas. Todo o trabalho segue a estética do género musical Lo-Fi. Durante o processo, o músico Flatsound deu-lhe dicas sobre como distribuir música online de forma independente, Pedro Menezes toca bateria em “Starting Over” e Flunkie canta em “The flowers whisper your name”.

Guilherme explica-nos, em entrevista exclusiva ao blog da Resistência Queer, que começou a fazer música apenas quando sentiu necessidade:

Como começaste a fazer música?

Isso é aquela pergunta em que se responde “Sempre quis fazer música”, mas eu comecei quando senti a necessidade, para me sentir melhor. Eu não estava numa situação muito boa tanto escolar como mental e vi que o que eu tinha e precisava de fazer para a minha saúde mental, era música. Poder fazer o que eu quero, ter controlo sobre o que estou a fazer. Saí da escola e a seguir veio a música.

Eu sinto que música é, muitas vezes, uma forma de terapia...

Exato. Para mim foi literalmente uma forma de terapia, porque o que eu estava a fazer na altura não estava a resultar e acabou mesmo por ser isso.

Quando ouvi o teu álbum, notei que parecia ter um início e um fim. Começa por falar sobre uma separação e que depois passa pelas várias fases de aceitação. Era essa a intenção?

Sim, exatamente. Era mesmo essa a intenção. O álbum na verdade é um ciclo. Penso que pouca gente reparou nisto, mas o álbum é, sim, sobre as várias fases de aceitação do fim de uma relação e quando chega ao final, às últimas musicas, as coisas já estão boas. A “Lavender” é quando está tudo OK. As duas pessoas podem estar amigas ou cada uma foi para o seu lado, mas depois no final do álbum, se o estiveres a ouvir em repeat, o final da Lavender liga-se com o início do “Falling Out of Love”, ou seja, faz um ciclo. Este ciclo repete-se com amizades ou mesmo relações amorosas. Acabam, recomeçam… É sempre um ciclo. Na música “Falling Out of Love”, no final, eu digo “Someday I won’t sing a song again”, que basicamente quer dizer que algum dia vou encontrar uma relação que vai acabar na “Lavender”. Ou seja, não vou ter de estar a procurar uma pessoa nova para ir por esse processo todo outra vez.

Inspiraste-te em alguém para escreveres o álbum?

Não me inspirei em ninguém específico, mas claro que há músicas inspiradas em certas ocasiões. Acho que escrever uma música sobre alguém seria muito invasivo da sua privacidade. O álbum é sobre relações em geral, segundo a minha experiencia...

E as tuas inspirações artísticas?

Em termos de inspirações artísticas tenho uma playlist no Spotify chamada “meet me halfway there” na qual todos os artistas que lá estão são os que me inspiraram. Se não tivesse conhecido aquelas bandas, o som do álbum nunca seria o mesmo.

Fizeste tudo sozinho?

Sim, no meu quarto, com a minha guitarra.

Eu gostei bastante do facto de o teu álbum ter sido feito de maneira independente e de apesar disso, ter toda uma mensagem consistente por trás. Acho a ideia de ser um ciclo super inteligente...

(Ri-se) O meu objetivo desde que comecei a fazer o álbum sempre foi fazer um ciclo. Tenho standarts muito altos e sou muito perfecionista, por isso é que demorei tanto a fazer o álbum.

E sobre matérias LGBT? Já sofreste preconceito?

Sim, claro. Há sempre comentários na rua. E ser de género não binário há sempre mais gente que não percebe isso.

O casamento e a adoção entre pessoas do mesmo sexo já foram legalizados. Achas que ainda há muito que fazer?

Definitivamente. A lei pode mudar, mas a mentalidade das pessoas não é bem assim. Acho que há muita falta de informação e o facto de quase não se falar desses temas nos media não ajuda.

Em inglês existem pronomes não binários e em português não…

Em português mesmo que falemos no plural, o pronome continua a ser masculino. Português é uma língua machista.

Tens uma música na tua vida?

Eu ligo músicas a fases da minha vida. Neste momento está a ser a “Smoke Signals” da Phoebe Bridgers.

Ouves artistas assumidamente LGBT?

História engraçada sobre isso: Todos os artistas que tenho vindo a conhecer nos últimos dois anos são queer. Ouço falar da banda, ouço a música e depois descubro que a banda é queer. Aconteceu-me, por exemplo, com Florist, Adult Mum e Frank Ocean que apesar de já todos saberem, eu não sabia.

Onde sentes que o teu estilo de música se encaixa?

Gosto de dizer que dizer que talvez num registo mais underground. A única coisa em comum com músicas mas mainstream é provavelmente eu falar sobre desilusões amorosas. Acho que a maior parte da música pop se foca nas vendas e em pôr as pessoas a dançar. Quando não te focas nas vendas, acho que acabas por conseguir fazer algo mais sentimental e que toque nas pessoas.

Acho que isso também acontece em relação a concertos. O que acaba por acontecer quando um artista se torna mais conhecido é passar a ter cada vez menos conexão com o público. Para mim, o essencial num concerto é mesmo sentires que o artista gosta de tocar a sua música e a criação de uma ligação entre os espetadores e o artista.

Sentir, exato! A Lorde nos VMA’s não cantou. Ela dançou. Ela disse que não conseguia cantar e então decidiu divertir-se e apenas dançar para os fãs e sentir a música que estava a tocar. Não percebi o facto de as pessoas terem falado mal disso depois.

Acho que as pessoas têm medo do diferente e do que não conhecem.

A 16 de Fevereiro podem ver Calmness ao vivo em Leiria, no Atlas Hostel, e posteriormente em Lisboa, com local e datas a anunciar.

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